quarta-feira, 22 de julho de 2015

Cotas Raciais. Uma discussão necessária

Hoje foi publicada no jornal local "O Diário"  uma matéria sobre cotas raciais em que o jornal afirma que a cidade é contra esta política afirmativa.
Entretanto questionamos esta reportagem e este posicionamento. 

As políticas afirmativas devem ser discutidas abertamente e também o assunto do preconceito e discriminação.  Fenômeno que não pode ser negado ou velado. 
Leiam a reportagem e também o questionamento que foi feito para esta publicação.

http://www.jornalodiario.com.br/primavera-do-leste/noticias-de-pva-do-leste/primaverenses-sao-contra-cotas-raciais/57917

Resposta à reportagem feita pela professora formadora Janaina Pitas.

"Após ler a reportagem do Jornal O Diário escrevi um texto em resposta questionando as fontes e metodologia da pesquisa, as quais não representam uma maioria e sim a apenas 8 pessoas. Provavelmente meu texto não será publicado no jornal, pois recebi uma ligação da jornalista confessando alguns erros e apresentando a ignorância para outros.
Desse modo segue o link da reportagem do Jornal O Diario e o meu texto abaixo, com o meu posicionamento sobre o assunto."





QUAIS PRIMAVERENSES SÃO CONTRA COTAS RACIAIS?
Janaina Pitas
Professora de História e Mestre em História Social
Centro de Formação de Professores (CEFAPRO/SEDUC)

   Questiono a pesquisa relatada pelo jornal O Diário e gostaria que informasse aos leitores a metodologia e quantitativo dessa pesquisa de rua, pois me parece tendenciosa quando apresenta apenas um ponto de vista. Digo isso porque sou Historiadora, pesquisei durante  meu mestrado aspectos culturais no âmbito escolar no município de Primavera do Leste, onde evidencio as disparidades sociais e diversidade étnico-raciais nesta cidade. 

      No ano de 2014 desenvolvi um grupo de trabalho com Formação Continuada para professores (SEDUC), voltado para as Relações Étnico-raciais e entre os aspectos discutidos e pesquisados em algumas escolas (3 escolas estaduais) do município percebemos que, em um questionário-diagnóstico, muitos alunos desconheciam por exemplo porque existe o dia 20 de Novembro  (Dia da Consciência Negra), assim como a história de uma África para além da escravidão. Ao longo desse ano pudemos ouvir muitas denúncias de preconceito e discriminação em vários espaços dessa “pacata” cidade interiorana.

      Avalio diante das minhas pesquisas, apresentações em Seminários Nacionais e Estaduais que essa cidade mascara e silencia o peso da discriminação contra o negro, o indígena, o maranhense, e tantos outros grupos que foram e são responsáveis pela construção da mesma.

      A ignorância em relação à História de luta do negro no Brasil e na sua importante participação na construção, assim como os efeitos deixados pela Lei de Terras de 1850, após a escravidão, entre outros fatos históricos é o que faz com que hoje os mesmos necessitem de uma reparação histórica. Ou alguém ai acha natural que a maioria do alunado negro compor o número de evasão escolar? Olhem o mapa da violência no Brasil, e veja qual é o grupo que tem maior quantitativo nos presídios. Como dizia Marcelo Yuka em sua “música denúncia”: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. Não podemos esquecer ou ignorar a história e achar que este cenário é natural. 

      Desconhecer tais fatos, ao meu ver, é o que faz a mídia e muitas pessoas reproduzirem o discurso de elite branca que se sente ameaçada e injustiçada com ações afirmativas (cotas raciais). Não podemos ser ingênuos e pensar que pessoas que estão a séculos marginalizadas pela sociedade chegarão em pé de igualdade sem políticas públicas, isso reforça o mito da democracia racial, um discurso vazio, contestado por dados por meio do IPEA, IBGE e tantas outras instituições de pesquisa. Sugiro que aqueles que querem conhecer um pouco mais e entender todo esse processo busquem fontes seguras como o NEPRE (UFMT-Cuiabá), o qual tem produzido muitas dissertações e teses a respeito.

    Precisamos desnaturalizar nosso olhar, procure analisar os espaços de Primavera do Leste. Será que podemos encontrar o mesmo número de negros e brancos nas universidades, IFMT, ou em outros cargos e instituições de prestígio? Se a sua resposta for não, se você perceber que não temos essa tão sonhada igualdade étnico-racial vá além e se pergunte porquê? Talvez comece a entender o processo de exclusão e hierarquização que vivenciamos e que por isso as cotas raciais nos concursos ganharam tanto sentido.

Fonte da imagem: https://umhistoriador.wordpress.com

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